ALIMENTAÇÃO

Fome e doenças podem ter impulsionado tolerância à lactose

O consumo generalizado de leite pode não ter sido a alavanca que esteve por trás da capacidade dos antigos europeus digerirem lacticínios.

Fome e doenças podem ter impulsionado tolerância à lactose

DIETA E NUTRIÇÃO

VIVER SEM LACTOSE


Hoje, a maioria das pessoas gosta de beber leite, mas ajuda ser-se tolerante à lactose, caraterística genética que se disseminou entre os antigos europeus, não porque bebiam muito leite, mas como resultado de fomes recorrentes e surtos prolongados de doenças, segundo é sugerido por um novo estudo, agora divulgado.

Em relatos feitos por pesquisadores da Universidade de Bristol em Inglaterra, à revista científica Nature em 27 em julho, os europeus começaram a beber leite avidamente a partir de cerca de 9 mil anos, quando os grupos de laticínios chegaram pela primeira vez ao sudeste do Continente, à região da península balcânica. No entanto, essa prática levou alguns milhares de anos até que um número significativo de europeus desenvolvesse um gene para digerir a lactose, o açúcar do leite, dizem os pesquisadores.

Segundo o biogeoquímico Richard Evershed, da Universidade de Bristol e seus colegas, estas descobertas são baseadas em amostras de resíduos de gordura animal obtidas em centenas de locais arqueológicos e de uma coleção de dados de ADN e vêm pôr em causa a ideia corrente de que o uso do leite na alimentação aumentou drasticamente à medida que os benefícios nutricionais e de saúde do produto impulsionaram a evolução da tolerância à lactose.

Os consumidores de leite que não conseguem digerir a lactose, apresentam diarreia, gases, inchaço e cólicas intestinais, reações desconfortáveis, mas ainda assim insuficientes para fazer deslocar a agulha evolutiva em direção à tolerância à lactose, segundo a equipa de Evershed. Porém, durante fomes periódicas e surtos de doenças infeciosas, a diarreia induzida pela lactose tornou-se fatal para indivíduos gravemente desnutridos em comunidades agrícolas, tendo avançado que essas ameaças recorrentes influenciaram a evolução da tolerância à lactose, segundo afirmam.

Mais pesquisas serão ainda necessárias para esclarecer a escala e a extensão da fome ou episódios de doenças infeciosas que poderão ter influenciado a forma como os antigos europeus digeriam o leite, refere o bioarqueólogo Oliver Craig da Universidade de York, Inglaterra, que não participou do estudo. Não obstante, o relatório de Evershed “descarta de forma abrangente” o consumo generalizado de leite como a força evolutiva por trás da tolerância à lactose.

Por outro lado, os investigadores também devem ter em conta que o queijo e outros produtos lácteos com baixo teor de lactose já eram usados na alimentação das populações europeias antigas desde pelo menos 7 mil anos atrás, o que pode colocar em dúvida se não poderiam ter sobrevivido a tempos de fome e doença, caso esses alimentos estivessem amplamente disponíveis, refere Craig.
A equipa de Evershed mapeou as frequências estimadas de usos do leite em toda a Europa no período de 9 mil a 500 anos atrás, analisando dados publicados anteriormente de resíduos de gordura animal extraídos de mais de 13 mil fragmentos de cerâmica encontrados em cerca de 550 locais arqueológicos.
Ao mesmo tempo a equipa de investigadores rastreou o emergir e a disseminação do principal gene responsável pela tolerância à lactose, usando dados publicados de ADN antigo de cerca de 1800 europeus e asiáticos, tendo concluído que a sua caraterística, conhecida como persistência da lactase, somente se tornou comum na europa desde há pouco mais de 3 mil anos atrás. Além disso, os seus níveis crescentes de persistência tendiam a alinhar-se com o declínio da população ligado à fome em regiões específicas, relatam os pesquisadores.
Por razões ainda desconhecidas há, no entanto, outras regiões do mundo onde o consumo regular de leite não estimula necessariamente a disseminação da tolerância à lactose, o que constitui um desafio à investigação no futuro.

Fonte: Tupam Editores

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