Cetamina pode revelar um novo caminho para tratar a depressão
Para os 280 milhões de pessoas que sofrem de depressão em todo o mundo, o alívio já vem tarde. Os antidepressivos monoaminérgicos, incluindo os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRSs), demoram semanas a meses a fazer efeito e não funcionam em mais de um em cada três pacientes. Para aqueles diagnosticados com depressão resistente ao tratamento ou em crise imediata, o acesso a antidepressivos seguros, eficazes e de ação rápida pode melhorar a vida e diminuir o suicídio.
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A depressão é uma das mais frequentes doenças psiquiátricas. Pode afectar todas as pessoas em qualquer idade e, se não for tratada, pode, em última análise, levar ao suicídio. LER MAIS
Uma possibilidade que está em investigação atualmente é a cetamina, que pode melhorar a depressão, mesmo em pacientes resistentes ao tratamento. A cetamina é um anestésico usado há mais de 50 anos, que tem sérios efeitos colaterais, incluindo dependência, alucinações e delírios.
Os estudos pré-clínicos mostraram que uma única dose de cetamina pode ter efeitos benéficos a longo prazo na saúde mental, mas a substância é usada apenas no tratamento da depressão como último recurso. E há razões para se ser cauteloso, pois além dos efeitos colaterais, a forma como a cetamina altera a química do cérebro não está totalmente compreendida.
Se os mecanismos biológicos no cérebro, que a cetamina influencia, forem descobertos, poderão ser desenvolvidos novos medicamentos para atingir especificamente o efeito antidepressivo benéfico.
O estudo, liderado pelo professor Kondo e publicado na revista científica Translational Psychiatry, demonstrou que o tratamento com cetamina levou a um aumento no fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1), uma molécula cerebral antidepressiva conhecida. Não se sabia, porém, se isso estava ligado a moléculas antidepressivas relacionadas à cetamina descobertas anteriormente, como o fator neutrófico derivado do cérebro (BDNF). Foi possível confirmar que o IGF-1 produziu um efeito antidepressivo e, em seguida, demonstrou-se que se poderia desligar bloqueando-o com um anticorpo neutralizante do IGF-1.
Depois de demonstrarem que se poderia desligar o IGF-1, os investigadores continuaram com uma investigação separada. Estudos anteriores haviam revelado que a cetamina aumenta o BDNF, uma proteína que promove o crescimento dos nervos, então os especialistas queriam verificar se o IGF-1 e o BDNF atuavam em conjunto ou separadamente.
Assim, testaram se os anticorpos neutralizantes de IGF-1 e BDNF bloqueavam o efeito antidepressivo de outras proteínas, o que não aconteceu. Isto levou os investigadores a concluir que o IGF-1 e o BDNF funcionam através das suas próprias vias independentes.
Esta descoberta indica que a cetamina usa uma via anteriormente desconhecida que produz um efeito antidepressivo. Os investigadores levantaram a hipótese de que a dose única de cetamina aumenta o nível de IGF-1 no cérebro, alterando persistentemente os nervos do córtex pré-frontal e fazendo com que eles aumentem o número de conexões estáveis. A ligação entre a cetamina e o IGF-1 apresenta uma nova direção para estudos futuros que investigam antidepressivos que visam diretamente o IGF-1.