Nova técnica pode ser uma grande ajuda para doentes com EM
Segundo a medicina, uma pessoa com Esclerose Múltipla (EM) “agressiva” é aquela que, apesar do uso de terapia modificadora da doença, desenvolve uma incapacidade significativa após o diagnóstico. A boa notícia é que atualmente, graças à descoberta precoce da doença, são poucos os pacientes neste caso. Existe, no entanto, uma técnica que tem conseguido a resposta “nenhuma evidência de atividade da doença” por mais de sete anos em apenas 8% dos pacientes.
DOENÇAS E TRATAMENTOS
ESCLEROSE MÚLTIPLA
Atualmente, não existe cura conhecida para a EM. Há no entanto tratamentos eficazes que contrariam a evolução da doença e aliviam os sintomas associados, proporcionando mesmo, a reabilitação de muitos doentes. LER MAIS
Para o neurocientista, psicanalista e biólogo Fabiano de Abreu a maneira mais eficaz de controlar a desmielinização mediada por inflamação e a degeneração contínua dos axónios que caracterizam a EM, e de prevenir, retardar ou reverter a progressão da doença é a ablação imunológica seguida por transplante autólogo de células-tronco hematopoiéticas (TACTH).
Apesar desta técnica ter aumentado em todo o mundo desde 2016, muitas questões ainda continuam por esclarecer. Permanece incerto, por exemplo, quais os pacientes que obteriam maior benefício do TACTH e em que estágio da doença deveriam ser submetidos ao procedimento.
Há que ter em mente que o objetivo da terapia é eliminar as células inflamatórias causadoras de doenças que contribuem para as lesões que resultam em incapacidade neurológica.
O tratamento foi experimentado em pacientes com a doença muito precoce e agressiva – com muita atividade na fase inflamatória, quando os sinais e sintomas se estão a manifestar – tendo-se chegado à conclusão que essas seriam as pessoas que provavelmente obteriam maiores benefícios.
Após 30 meses de testes, o estudo revelou que o TACTH era seguro e eficaz na indução de remissão rápida e sustentada quando usado como terapia de primeira linha, que é o caso da maioria dos pacientes com doença agressiva precoce. Estes doentes passaram por terapias de eficácia mais elevada, que não conseguiram controlar a EM, o que abre a perspectiva de que também eles poderiam beneficiar com a técnica.
No entanto, segundo o neurocientista, há um detalhe crucial que deve ser considerado. Os pacientes devem ser submetidos ao tratamento nos primeiros 4 a 5 anos da doença, e não 10 a 15 anos depois, uma vez que nessa altura já sofreram danos irreversíveis.
O objetivo do procedimento é interromper a doença diretamente e potencialmente permitir alguma reparação. O que se pretende é interromper o ataque inflamatório no SNC do paciente removendo o sistema imunológico autorreativo, substituindo este por um sistema imunológico autólogo e virgem de tratamento.
Este tipo de procedimento já se encontra disponível no Canadá e noutros países, mas Portugal não é um deles. O neurocientista refere que a sua disponibilidade no país dependerá, provavelmente, da existência de centros de transplante especializados.