Vacinação contra a COVID-19: comunicação tem impacto na confiança
O estudo internacional “Trust in COVID-19 Vaccines”, realizado pela multinacional de Media Intelligence presente em Portugal CARMA revela o impacto dos media na opinião pública e na confiança nas vacinas.
SOCIEDADE E SAÚDE
COVID-19: VACINAÇÃO EM MARCHA
Embora com atrasos nas entregas por parte das empresas com quem a União Europeia (UE) negociou, em nome dos Estados-Membros, o último relatório de vacinação da Direção-Geral de Saúde (DGS), revela que já foram recebidas em Portugal 651 800 doses de vacinas contra a COVID-19 das quais foram distribuídas 571 981. LER MAIS
Os dados agora divulgados apresentam uma correlação clara entre a forma como os líderes políticos fizeram declarações sobre questões altamente científicas e complexas, e a hesitação na toma da vacina por parte da população.
Em dezembro, ficou claro que os líderes políticos, auxiliados pelos media, iriam liderar a promoção da toma da vacina. O seu nível de influência criou a oportunidade de fazer uma diferença significativa na necessidade de minimizar a hesitação da toma da vacina.
Enquanto nos Estados Unidos da América os jornalistas eram mais propensos a recorrer aos comentários das empresas farmacêuticas, na França e na Alemanha (assim como em Portugal) a primeira escolha foram as autoridades governamentais e de saúde.
Grande parte da desinformação na Europa girou em torno de preocupações relacionadas com a vacina AstraZeneca e supostos coágulos sanguíneos fatais
O estudo da CARMA indica que a confiança na vacina AstraZeneca diminuiu significativamente de dezembro a março, coincidindo com uma vastidão de declarações de líderes políticos europeus e profissionais de saúde pública, incluindo o presidente francês Emmanuel Macron, que rotulou a vacina como “quase ineficaz acima dos 65 anos”.
Mais de 40 por cento das manchetes usaram linguagem emotiva em França e na Alemanha, com artigos sobre AstraZeneca e Pfizer respondendo por 70 por cento das manchetes emotivas. A maioria dessas manchetes mais sensacionalistas foram publicadas em França. Em Portugal, 89 por cento das manchetes foram factuais e 11 por cento mais emotivas e sensacionalistas.
O impacto no comportamento do público é claro, com comentários sobre os potenciais efeitos colaterais correspondentes às crescentes preocupações das populações europeias sobre as vacinas.
Enquanto a desconfiança francesa em relação à AstraZeneca atingiu 61 por cento em março, mensagens positivas e sentimento de orgulho nacional na Grã-Bretanha fizeram registar níveis de desconfiança de apenas nove por cento.
O relatório explica que o comportamento emotivo dos governos de toda a Europa, mais negativo em França comparado com a favorabilidade positiva na Grã-Bretanha, está relacionado com a confiança e com a aceitação das vacinas.
Os dados de pesquisa do Google contam a mesma história, pois apesar de as pesquisas no Reino Unido por coágulos sanguíneos, trombose e mortes atingirem o pico em linha com a cobertura negativa dos media (da mesma forma que aconteceu em França e na Alemanha), a confiança geral e a aceitação da vacina permaneceram maiores.
“A confiança é crítica para o processo de aceitação da toma da vacina COVID-19 e a confiança por sua vez, é impulsionada pela clareza, consistência e certeza dos governos, ou pela falta das mesmas. Este estudo internacional da CARMA identifica o quanto as ações e comunicações de líderes políticos e porta-vozes são importantes, e como errar pode ter consequências significativas. Para além disso, este estudo demonstra que a desinformação não existe apenas nos cantos mais obscuros da esfera social e digital, reafirmando o papel fundamental que têm os nossos líderes e governantes. A forma como os governos e a sua liderança se comportam e comunicam tem um impacto significativo na opinião pública e no comportamento dos cidadãos”, comentou Luís Garcia, managing diretor da CARMA em Portugal.
“Nesta análise são identificados os fatores que podem ter contribuído para a confiança pública na vacinação, bem como o desempenho dos media comparando os tópicos e questões que motivaram a cobertura dos meios de comunicação social. Uma comunicação eficaz, informada e transparente nunca foi tão importante - a confiança demora muito a ser ganha, mas pode ser destruída em momentos”, concluiu.