COLESTEROL

Tratamentos para reduzir colesterol não evitam doenças cardíacas

Definir metas para níveis “adequados” do chamado colesterol mau (LDL, ou lipoproteína de baixa densidade) para evitar doenças cardíacas e morte pode parecer intuitivo e razoável, principalmente para pessoas que apresentam outros riscos para essas condições.

Tratamentos para reduzir colesterol não evitam doenças cardíacas

SOCIEDADE E SAÚDE

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Décadas de estudo, no entanto, não mostraram nenhum benefício consistente para essa abordagem, revela agora uma análise dos estudos científicos já publicados sobre o tema realizada por Robert DuBroff e os seus colegas da Universidade do Novo México, nos Estados Unidos, da Escola Baiana de Medicina, no Brasil, e da Universidade de Grenoble, na França.

Na realidade, essa abordagem não consegue identificar muitos daqueles pacientes com alto risco e ainda inclui nos tratamentos muitos pacientes com baixo risco, que não precisam de tratamento, afirmem os investigadores, questionando a validade dessa estratégia, usada mundialmente, de alvejar o colesterol mau.

Os medicamentos para baixar o colesterol são prescritos atualmente para milhões de pessoas em todo o mundo, seguindo as diretrizes clínicas das autoridades de saúde. Essas diretrizes consideram o risco de doença cardiovascular futura de moderado a alto para as pessoas com problemas já diagnosticados de saúde cardiovascular; aqueles com níveis de colesterol LDL de 190 mg/dl ou mais; adultos com diabetes; e aqueles cujo risco estimado é de 7,5 por cento ou mais nos próximos dez anos, com base em vários fatores contribuintes, como idade e histórico familiar.

Contudo, embora a redução do colesterol LDL seja uma parte estabelecida do tratamento preventivo e apoiada por um corpo substancial de testes e ensaios clínicos, a abordagem nunca foi devidamente validada, dizem os cientistas.

Os investigadores realizaram uma revisão sistemática de todos os ensaios clínicos publicados até hoje sobre o tema, com foco na avaliação dos tratamentos com um dos três tipos de medicamentos para redução do colesterol (estatinas; ezetimiba e PCSK9) e comparando-os com o cuidado usual ou medicamentos simulados (placebo), por um período de pelo menos um ano, em pacientes de risco.

A análise mostrou que mais de três quartos de todos os ensaios clínicos não relataram impacto positivo no risco de morte e quase metade não relatou impacto positivo no risco de doenças cardiovasculares futuras.

E a redução do colesterol LDL alcançada não correspondeu aos benefícios resultantes, ou seja, mesmo mudanças muito pequenas no colesterol LDL mostraram-se às vezes associadas a grandes reduções no risco de morte ou eventos cardiovasculares e vice-versa.

Treze dos ensaios clínicos cumpriram a meta de redução do colesterol LDL, mas apenas um relatou um impacto positivo no risco de morte; cinco relataram uma redução no risco de “eventos” adversos.

Entre os 22 ensaios que não atingiram a meta de redução do LDL, quatro relataram um impacto positivo no risco de morte, enquanto 14 relataram uma redução no risco de eventos cardiovasculares.

Esse nível de inconsistência foi evidente para todos os três tipos de medicamentos redutores do colesterol LDL.

“Considerando que dezenas de [ensaios clínicos randomizados] de redução do colesterol LDL não conseguiram demonstrar um benefício consistente, devemos questionar a validade desta teoria. Na maioria dos campos da ciência, a existência de evidências contraditórias geralmente leva a uma mudança de paradigma ou a uma alteração da teoria em questão, mas, neste caso, a evidência contraditória foi amplamente ignorada, simplesmente porque não se encaixa no paradigma vigente”, escreveram os investigadores.


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