MEDICAMENTO

Dexametasona para COVID-19 “não é uma cura”

O sucesso do tratamento da COVID-19 com o fármaco dexametasona, recentemente anunciado, parece ser promissor, mas os médicos portugueses são cautelosos.

Dexametasona para COVID-19 “não é uma cura”

EXERCÍCIO FÍSICO

PILATES

Num estudo coordenado pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, no qual se está a tentar avaliar quais as melhores formas de tratar a COVID-19, verificou-se que esse medicamento da classe dos corticoides, reduziu a mortalidade em doentes graves.

Até agora, nenhum dos tratamentos, novos ou reaproveitados, teve resultados positivos inequívocos no tratamento da COVID-19. É por isso que o anúncio feito pela Universidade de Oxford está a ser recebido com grande entusiasmo, mesmo tendo em conta que se tratam de dados preliminares – o artigo científico ainda não foi publicado.

O medicamento, da família dos corticoides, a dexametasona, diminuiu a taxa de mortalidade em um terço, nos doentes mais graves, ligados ao ventilador, e em um quinto, nos doentes a receber oxigénio.

Um resultado com “relevância estatística” e de “importância global imediata”, defendeu um dos coordenadores do estudo Recovery https://www.recoverytrial.net/, Martin Landray, professor de Medicina e de Epidemiologia da Universidade de Oxford.

Medicamentos como este já têm vindo a ser utilizados em todo o mundo, incluindo Portugal. “A dexametasona e outros fármacos da mesma classe usam-se em muitas situações. Nos doentes com COVID-19, o corticoide mais usado é a metilprednisolona”, esclarece o pneumologista Filipe Froes, em declarações à Visão.

“São resultados muito bons, até porque até agora, o que tínhamos era zero”, compara o especialista em Medicina Geral e Familiar David Rodrigues, responsável pelo projeto Evidentia Médica (https://evidentiamedica.com/), no qual se dedica à análise de artigos científicos. “Mas atenção que não se trata de uma cura”, sublinha o médico.

A expectativa é a de que com este tipo de substâncias, que atuam ao nível do sistema imunitário, refreando a resposta do organismo, se consiga controlar a inflamação exacerbada de que alguns doentes com COVID-19 padecem. Nestes casos, é a reação ao vírus, do próprio sistema imunitário, que causa o dano que pode levar à morte.

“Funciona com os pacientes mais doentes, que é exatamente aquilo que esperávamos”, completou Martin Landray no anúncio feito à imprensa.

Outro aspeto importante deste trabalho é o facto de se tornar claro quais são os pacientes que podem beneficiar deste tratamento, assim como o momento, na evolução da infeção, em que deve começar a ser tomado. “O medicamento só traz benefício a doentes com necessidade de ventilação ou de oxigénio. Nos outros casos menos graves, ou seja, nos pacientes que não necessitam de apoio respiratório, não teve qualquer impacto na evolução da doença”, reforça David Rodrigues.

Para Filipe Froes a relevância do trabalho agora divulgado – e que envolveu 2104 pacientes a tomar o medicamento, em comparação com 4321 que não o tomaram – é “confirmar a vantagem e, sobretudo, quantificá-la”.

Sabe-se agora que é no momento em que começa a haver comprometimento da função respiratória que o corticoide deve ser dado aos doentes. “É um timing muito específico. E o estudo veio mostrar isso também”.

Desenvolvida na década de 50 do século passado, o medicamento é barato, fácil de produzir e é usado normalmente em doentes com patologias auto-imunes, como artrite reumatoide. Não evita a doença, nem sequer previne a evolução para formas graves, mas o facto de aumentar a possibilidade de sobrevivência é um primeiro passo muito importante no combate à COVID-19.

Neste momento, continuam a ser estudados, no âmbito do Recovery, outras possibilidades de tratamento, como o antibiótico azitromicina ou um anti-viral usado nas infeções por VIH. Já o ensaio à hidroxicloroquina foi suspenso, tendo em conta a ausência de resultados positivos na progressão, prevenção e controle da doença.

Fonte: Visão

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