TRATAMENTO

Cientistas brasileiros desenvolvem anticorpos para tratar COVID-19

Investigadores do Instituto Butantan, no Brasil, estão a trabalhar no desenvolvimento de um novo tratamento para a COVID-19 que usa células de defesa retiradas do sistema imunológico de pacientes que se recuperaram da doença.

Cientistas brasileiros desenvolvem anticorpos para tratar COVID-19

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Os anticorpos monoclonais neutralizantes, como são chamadas essas células, serão selecionados de células de defesa (células B) do sangue de pessoas que se curaram da COVID-19. A ideia é encontrar uma ou mais dessas proteínas com a capacidade de se ligar ao vírus SARS-CoV-2 com eficiência e neutralizá-lo.

As moléculas mais promissoras poderão, então, ser produzidas em larga escala e usadas no tratamento da doença.

A equipa já está em fase avançada para obtenção de anticorpos monoclonais - ou mAb, do inglês monoclonal antibody - para o tratamento de Zika e tétano.

“Começamos a desenvolver essa plataforma em 2012 com os mAbs humanos antitetânicos e identificamos uma composição de três anticorpos que neutralizam a toxina do tétano. Depois, estabelecemos um acordo com a Universidade Rockefeller, nos Estados Unidos, para gerar linhagens celulares para mAbs antizika, que foram identificados durante a epidemia da doença, em 2015. São dois mAbs neutralizantes que poderão ser usados na proteção de gestantes em caso de retorno da circulação desse vírus. É um processo longo, mas já estamos a começar o trabalho com o novo coronavírus”, explicou a professora Ana Maria Moro.

O trabalho segue um princípio parecido com o da transferência passiva de imunidade - técnica que consiste na transfusão de plasma sanguíneo de pessoas curadas da COVID-19, que também está a ser desenvolvida no Brasil.
O plasma - parte líquida do sangue - de pessoas que se curaram da COVID-19 é naturalmente rico em anticorpos contra a doença. Ao entrar na corrente sanguínea de uma pessoa doente, essas proteínas começam imediatamente a combater o novo coronavírus.

No entanto, ainda não se sabe exatamente quais anticorpos estão a combater o microrganismo. Além disso, diferentes dadores podem ter quantidades maiores ou menores dos chamados anticorpos neutralizantes, que não só reconhecem como eliminam o vírus. A técnica de transferência passiva de imunidade depende ainda de constantes doações de plasma para manter as reservas.

“No caso dos anticorpos monoclonais, um líquido composto por um ou mais anticorpos selecionados entre os mais eficientes é produzido em larga escala, de forma recombinante, por culturas celulares no que chamamos de biorreatores”, explica a cientista.

Atualmente, existem mais de 70 biofármacos à base de anticorpos monoclonais aprovados para uso clínico no mundo.

A maioria desses biofármacos é direcionada para o tratamento do cancro e doenças autoimunes e vários, mais novos, para outras condições, como o combate ao vírus Ébola. Há ainda centenas de produtos em diferentes fases de ensaio clínico.

A primeira parte do trabalho envolve o recrutamento de voluntários convalescentes da COVID-19, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), onde Ana Maria é professora, e com a Rede Vírus (Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil).

Com o sangue recolhido dos voluntários, os investigadores realizarão uma série de processos de biologia molecular a fim de identificar, nos linfócitos B, as sequências de genes que expressam os anticorpos neutralizantes.

Cada anticorpo será então caracterizado quanto à sua ação perante o vírus, como capacidade de ligação, especificidade e afinidade, reatividade cruzada com outros anticorpos e capacidade de neutralização.


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