Um sistema nervoso próprio, conectado ao sistema nervoso central, faz com que o nosso intestino seja considerado um segundo cérebro.

O gastroenterologista Tomaz Navarro, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), no Brasil, afirma que o órgão “inclusive é independente”.

Cerca de 80 a 90 por cento da serotonina (neurotransmissor que regula diversas funções no organismo, incluindo humor, apetite e até funções intelectuais) é produzida pelo intestino.

O gastroenterologista explica que tanto o sistema digestivo afeta o humor, quanto o humor afeta o sistema digestivo. “Muitas pessoas, por exemplo, quando ficam muito nervosas por algum motivo têm diarreia”.

Isso acontece devido à estimulação do nervo vago, que é estimulado dependendo dos sentimentos que o indivíduo sente e liberta hormonas que vão deixar o movimento do tubo digestivo mais acelerado e libertar mais secreções.

“As reações dependem muito de cada indivíduo. Cada tem uma reação específica. Há pessoas que ficam com o intestino preso. Outra reação comum é a dor de estômago mediante stress, esse sentimento chega através do vago e estimula a produção de células ácidas no estômago, que causa dor e pode até desenvolver uma gastrite”, afirma.

Por outro lado, sentimentos de tristeza e depressão podem provocar constipação, e problemas de distúrbio do sono podem ter origem no “cérebro intestinal”.

“Outro fenómeno que mostra bem a interação entre o cérebro e o sistema digestivo é o frio na barriga. Também é o nervo vago que estimula o tubo digestivo e a pessoa tem a sensação de borboletas no estômago devido ao nervosismo”, explica.

Segundo Navarro, o mais importante para ter um sistema digestivo saudável que não interfira negativamente no humor é ter uma dieta variada. “A nossa microflora precisa de ser variada, e cada um tem a sua”, afirma.

O uso de probióticos é recomendável, porém é necessário escolher qual tipo utilizar com cuidado, procurando orientação médica ou opções com comprovação científica de credibilidade.

“O mais importante é ter equilíbrio. Comer coisas prazerosas de vez em quando também é importante”, explica. Segundo Navarro, quando comemos algo de que gostamos, a digestão começa antes da ingestão.

Contudo, apenas uma dieta saudável não é suficiente para ter uma boa função do sistema digestivo. “Se determinada pessoa tem um problema no trabalho, na família, pessoal, se está com alguma questão psicológica, isso vai interferir. Mesmo que essa pessoa coma bem, pode não fazer uma digestão adequada”, explica ainda o especialista.