TRAUMATOLOGIA

Traumatismo craniano poderá ser tratado com luz

Cientistas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, no Brasil, estão a desenvolver um método para reabilitar as funções cognitivas em pacientes com traumatismo cranioencefálico grave, vítimas de acidentes ou atos de violência.

Traumatismo craniano poderá ser tratado com luz

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A terapia consiste na aplicação de laser, emitido por díodos instalados num capacete, para promover a recuperação do tecido cerebral.

Diferentes terapias com uso de luz, reunidas sob o termo fotobiomodulação, já vêm sendo aplicadas para diversos problemas de saúde, de lesões ortopédicas e fibromialgia a Alzheimer e depressão - na verdade, qualquer doença em que se deseja promover ou inibir certas funções celulares, ou seja, modular estas funções.

O efeito regenerador da luz foi descoberto por acaso num teste realizado com ratos que visava tratar tumores. Percebeu-se que o laser usado para queimar as células cancerígenas promovia a cicatrização das feridas nos roedores.

Ao investigarem por que isso acontecia, estudos posteriores demonstraram que, em intensidade e tempo adequados, a luz é capaz de aumentar a oxigenação das mitocôndrias, as “fábricas” de produção de energia nas células, e, assim, acelerar o processo de regeneração dos tecidos.

No caso do traumatismo craniano, o objetivo é estimular a regeneração de neurónios lesionados.

A luz dos díodos emissores de luz (LED, na sigla em inglês) é capaz de penetrar no couro cabeludo e no crânio e tem potencial para melhorar a atividade celular do tecido cerebral comprometido.

O que os investigadores da USP procuram agora é dar um passo além, desenvolvendo diferentes abordagens para maximizar os efeitos positivos dessa terapia e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Uma das apostas é iniciar a terapia precocemente, na fase aguda da lesão, num período de até oito horas após o acidente. “Essa admissão hospitalar poucas horas após o trauma diminui o acontecimento de eventos que poderiam confundir os resultados”, explica o neurocirurgião João Gustavo dos Santos, que está a liderar os ensaios clínicos.

Além disso, os pacientes incluídos no estudo devem apresentar sintomas de lesão axonal difusa, que consiste em danos nos axónios do neurónio no interior da bainha de mielina, resultando numa degeneração grave da substância branca do cérebro. Isso porque os axónios, que constituem a substância branca, são as vias de transmissão dos impulsos nervosos entre os neurónios.

“Hoje, em toda medicina, ainda não temos nenhum tratamento para a lesão axonal difusa, que é uma das patologias associadas ao trauma cranioencefálico. Tudo o que se faz é, literalmente, esperar e ver como ela vai progredir, como o próprio organismo fará a recuperação”, afirma o pesquisador.

O tratamento proposto no ensaio clínico prevê 18 sessões de estimulação por LED em pontos específicos do crânio durante seis semanas. A ideia é que os pacientes sejam avaliados quanto ao seu nível de consciência antes da estimulação e também passados um, três e seis meses sobre a primeira estimulação.

Espera-se que a terapia de LED transcraniana melhore a função cognitiva dos pacientes, além de promover mudanças benéficas para a circulação sanguínea. Para aumentar o nível de fiabilidade dos resultados, o teste está a ser feito utilizando a metodologia duplo-cego, randomizado e controlado.


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