Composto de frutas cítricas eficaz contra leishmaniose cutânea
Um composto natural presente na casca de frutas cítricas por ser a base para um novo tratamento contra a leishmaniose cutânea. Em testes realizados em laboratório, a substância 2-hidroxiflavanona foi capaz de inibir a proliferação de parasitas Leishmania amazonensis, causadores da infeção, com eficácia semelhante sobre microrganismos sensíveis e resistentes ao principal medicamento usado atualmente no tratamento da doença.
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O composto também conseguiu controlar a infeção causada por cepas sensíveis e resistentes em ratinhos, considerados modelos experimentais para estudo da doença. Administrada por via oral, a substância destacou-se ainda por não apresentar efeitos tóxicos nas análises realizadas.
“Nas doses utilizadas, não foi observado qualquer efeito tóxico nos testes em cultura de células e nos ensaios em modelo experimental. As análises in silico [em computador] também indicam que a 2-hidroxiflavanona apresenta características favoráveis para o desenvolvimento de um medicamento, incluindo boa absorção e alta probabilidade de não apresentar toxicidade”, contou Luiza Gervazoni, do Instituto Oswaldo Cruz, no Brasil.
O composto natural apresentou desempenho superior ao medicamento de referência mesmo nos testes com parasitas sensíveis, promovendo a cicatrização da lesão de forma mais acelerada.
“O tratamento com 2-hidroxiflavanona, administrado por via oral, reduziu o tamanho da lesão cutânea e diminuiu a carga parasitária em cerca de 99 por cento, tanto na infeção causada por parasitas sensíveis, como resistentes. Isso aponta potencial para o desenvolvimento de uma terapia que poderia tornar-se na primeira opção de tratamento ou numa alternativa nos casos de resistência”, contou o Professor Elmo de Almeida Amaral, coordenador da pesquisa.
Os autores destacam, porém, que as análises realizadas são apenas a primeira etapa para o desenvolvimento de um novo tratamento.
“Para ser aprovado, um novo fármaco precisa passar por estudos pré-clínicos em modelos murinos, como ratinhos, e não murinos, como primatas. Posteriormente, são realizadas três fases de estudos clínicos, que envolvem pacientes. É um processo longo e caro, mas necessário para garantir a segurança e a eficácia dos tratamentos”, esclareceu o docente.
Os resultados foram publicados na revista científica Plos Neglected Tropical Diseases.
De acordo com os pesquisadores, o desenvolvimento de novos tratamentos para a leishmaniose cutânea pode ter um alto impacto na qualidade de vida dos pacientes.
Há mais de 70 anos que os antimoniais pentavalentes constituem a primeira opção para terapia contra a doença. Com alta toxicidade, esses medicamentos podem provocar reações adversas que vão de dores articulares, musculares e náusea até alterações cardíacas, pancreáticas e renais. Nos casos de resistência, as alternativas disponíveis são a anfotericina B e a pentadimina, que também apresentam efeitos colaterais importantes.
“O tratamento da leishmdaniose é longo e todos esses fármacos precisam ser administrados por via intramuscular ou intravenosa, o que faz com que o paciente tenha que ser internado ou ir diariamente à unidade de saúde durante meses de terapia”, pontua Luiza Gervazoni.
Produzida pelo metabolismo de plantas, a 2-hidroxiflavanona faz parte de um grupo de substâncias chamadas de flavonoides. Encontradas em frutas, vegetais, vinho e café, essas moléculas têm sido cada vez mais estudadas pelo potencial terapêutico, com trabalhos que apontam para a sua ação antiviral, anti-inflamatória, anticancerígena e contra parasitas como Trypanosoma e Leishmania.