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Pílula anticoncecional pode mesmo provocar depressão?

Cientistas admitem que quem sofre de depressão pode ver os sintomas agravarem-se, mas, para a generalidade das mulheres, os contracetivos hormonais não estão associados ao aparecimento da doença.

Pílula anticoncecional pode mesmo provocar depressão?

TRATAMENTOS NATURAIS

ALOÉ VERA

Perto de completar 60 anos de história, a pílula anticoncecional ainda está envolta em muitos mitos e dúvidas. Recentemente, o Instituto Federal de Medicamentos e Dispositivos Médicos (BfArM), na Alemanha, emitiu uma ordem para que as empresas farmacêuticas incluam a depressão como efeito secundário da pílula.

A discussão já não é nova, mas as especialistas contactadas pelo Diário de Notícias consideram que não há razões para alarme.

A notícia foi avançada pelo ABC, que cita um porta-voz do BfArM. “As mudança de humor, a depressão e os pensamentos suicidas” devem, segundo este organismo, ser incluídas na lista de possíveis consequências dos contracetivos hormonais. Além das alterações nas bulas, serão realizadas campanhas de informação para dar a conhecer estes potenciais efeitos da pílula.

Na carta, o BfArM apela aos médicos e farmacêuticos que informem as mulheres sobre as consequências destes contracetivos, e aconselha os consumidores a consultarem imediatamente o médico, se sentirem “os mínimos sintomas de alteração de humor ou de depressão”.

Na base da decisão estará um estudo dinamarquês, feito com quase meio milhão de mulheres com mais de 15 anos, que associou a toma da pílula a um maior risco de depressão e tentativas de suicídio. De acordo com o mesmo, o risco de suicídio é maior nas jovens que tomam a pílula entre os 15 e os 19 anos.

Contudo, nenhuma pesquisa feita até ao momento estabeleceu uma relação de causa-efeito entre a pílula e a depressão. “No estudo em causa, o diagnóstico de depressão é feito com base na toma de antidepressivos e/ou de internamento. Sabemos que a depressão é multifactorial e vai muito além destes dois critérios”, diz Teresa Bombas, membro da direção da Sociedade Portuguesa de Contraceção (SPC).

Segundo a especialista em ginecologia e obstetrícia, “o que sabemos atualmente é que as mulheres com antecedentes de depressão ou com instabilidade de humor podem ter um agravamento do seu perfil emocional com o uso dos contracetivos hormonais, independentemente de serem combinados ou só com um progestativo”, mas isso “não modifica as recomendações do uso da contraceção hormonal”.

Lembrando que a escolha de um contracetivo deve ser aconselhada por um profissional de saúde, Teresa Bombas sublinha que “as utilizadoras de contraceção hormonal que estão bem não devem ter receio e podem com segurança continuar o seu contracetivo”.

Para a generalidade das mulheres, não existe qualquer risco, mas se a mulher que inicia um contracetivo hormonal se deparar com sintomas que lhe foram explicados como sendo normais e transitórios, deve consultar o seu médico.

Quem tem depressão, refere a especialista, “não precisa de modificar o seu contracetivo, se estiver estável com ele, exceto as pessoas que com ou sem o efeito da medicação, sentem um agravamento da doença, ou seja, que começam a desencadear sintomas depressivos com o início da contraceção hormonal”.

Contactada pelo Diário de Notícias para comentar a circular do BfArM, a ginecologista e obstetra Marcela Forjaz foi consultar as bulas de algumas pílulas.

“Tive a oportunidade de reparar que aparece descrito nos efeitos secundários e com uma incidência considerada “frequente” (um em cada dez) as alterações do humor e como “pouco frequente” (um em cada 100) a depressão; outras referem logo na faixa dos “frequentes” humor deprimido ou alterado. Não é, assim, novidade, e todos sabemos que a concentração de hormonas, a sua proporção relativa e as suas variações têm impacto no humor da mulher”, refere.

Não ficou impressionada com a obrigatoriedade de expressar a depressão como efeito secundário, na Alemanha, mas, ressalva, não é o facto de passar a constar nas bulas em que ainda não aparece que irá alterar os seus hábitos de prescrição.

“Qualquer reação que se tenha com um fármaco deverá ser reportada e, quando se atinge um determinado número de referências ao mesmo efeito, terá de constar da lista de efeitos secundários de um medicamento. Há tantos casos de depressão (em Portugal 30 por cento das mulheres tem ou teve depressão e certamente muitas delas fazem ou fizeram contraceção hormonal) que difícil seria não ter de a indicar como possível efeito secundário”, refere Marcela Forjaz.

A especialista lembra que “a farmacovigilância inclui a participação dos consumidores e a sua comunicação de efeitos secundários, pois só ao fim de alguns anos de utilização acabarão por ser conhecidos todos ou quase todos esses efeitos”.

Teresa Bombas sublinha que os “sintomas de tristeza em relação a acontecimentos negativos da vida são normais em pessoas saudáveis e não são necessariamente sinais de depressão. As mulheres em idade reprodutiva passam por fases de acontecimentos negativos (profissionais e pessoais), de instabilidade do humor (gravidez e pós-parto) que fazem parte da vida e requerem energia individual e um exercício de adaptação que pode ser mais ou menos bem-sucedido e que também é normal”. No entanto, adverte, isto “é diferente dos sintomas depressivos, com comportamentos suicidas”.


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