Cancro digestivo mata um português por hora
O cancro digestivo mata uma pessoa por hora em Portugal, uma doença que tem vindo a aumentar nos últimos anos, representando um “grave problema” de saúde pública, alertou a Sociedade Portuguesa de Gastroenterologia (SPG).
“O cancro digestivo representa dez por cento da mortalidade portuguesa, um grave problema de saúde pública que tem registado uma subida nos últimos anos e que agrupa três das doenças que mais matam no nosso país: cancro do cólon e do reto, cancro do estômago e cancro do fígado”, além do cancro do pâncreas e do esófago, segundo a SPG.
Para alertar para o impacto do cancro digestivo em Portugal, a SPG realiza, no dia 26 de janeiro, em Lisboa, a Reunião Monotemática, um encontro científico dirigido a especialistas na área da saúde com o intuito de analisar as diversas abordagens terapêuticas para o tratamento destes cinco tipos de cancros digestivo.
“Um terço de todos os cancros do país são do aparelho digestivo”, disse o hepatologista Rui Tato Marinho, defendendo a importância de consciencializar os portugueses para os fatores de risco destas doenças e para os comportamentos que devem adotar para as prevenir.
O médico afirmou que “o aparecimento do cancro é uma consequência natural do envelhecimento e do comportamento humano”, referindo que, muitas vezes, começa a gerar-se 30 ou 40 anos antes de aparecer devido a “comportamentos menos bons”, como fumar, beber ou má alimentação.
“Há fatores de risco globais em relação aos cancros, nomeadamente o tabagismo e o consumo excessivo de álcool, que são fatores de risco, por exemplo, para o cancro do pâncreas”, em que mais de 95 por cento dos doentes morrem ao fim de um ano.
O cancro do pâncreas é um dos tumores que tem vindo a aumentar nos últimos anos, com 1 500 novos casos por ano, disse Tato Marinho, frisando que, “quase todos os anos, aumenta o número de mortos em 50 a 60 portugueses e em alguns países já ultrapassou ocancro da mama”.
“O ser gordo, ou ser obeso” também é um fator de risco do cancro do cólon e do reto - a primeira causa de morte por cancro em Portugal, com cerca de sete mil novos casos e quatro mil mortes por ano -, do cancro do pâncreas e do cancro do fígado, a quinta causa de morte dos portugueses em idades inferiores aos 70 anos.
Para prevenir a doença, os portugueses devem adotar “comportamentos corretos de saúde”, como evitar o excesso de peso, fazer exercício físico, não comer gorduras, doces, não fumar e não beber álcool em excesso, e para “detetar o cancro mais cedo e salvar vidas” devem fazer a colonoscopia a partir dos 50 anos.
Sobre a reunião, Rui Tato Marinho disse que tem também como objetivo mostrar à população o papel dos gastroenterologistas no cancro digestivo e as “práticas modernas” que utilizam no dia-a-dia.
“Habitualmente, não somos vistos como especialistas em cancro, nem queremos ser, mas temos um papel muito importante não só no diagnóstico do cancro, como no fim do ciclo do cancro”, disse o especialista.
Uma das práticas que está a ser realizada por estes especialistas são as reuniões com médicos de várias especialidades, que inclui o cirurgião, para analisar os casos de uma doença oncológica sem a pessoas ter que ir a cinco ou seis consultas.
“A pessoa não precisa de ir à consulta, há um médico que leva o seu processo, que depois é analisado por vários médicos” que tomam a decisão sobre o tratamento a fazer, explicou Tato Marinho, comentando que “a ideia de ter o médico sozinho no consultório [com o doente] está a cair em desuso principalmente no cancro”.
Com estas reuniões, além de haver “várias opiniões, que é sempre excelente, tomamos os procedimentos muito mais rápidos. Isto é em prol da melhoria dos cuidados dos doentes que têm a infelicidade de ter cancro”, conclui.