POLUIÇÃO

Um quilo de bife emite tanto CO2 como andar 150 km de carro

Reduzir número de vacas e alterar dieta alimentar fará bem à saúde e ao ambiente.

Um quilo de bife emite tanto CO2 como andar 150 km de carro

MEDICINA E MEDICAMENTOS

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Já se sabia que comer carne vermelha em excesso faz mal à saúde. O que muitos não sabiam é que o seu consumo excessivo também é prejudicial para o ambiente, seja ao nível dos gastos e da contaminação de água e de solos, seja nas emissões de gases de efeito de estufa, como o metano ou o dióxido de carbono.

Globalmente, o setor agrícola - com particular peso do sistema de produção de carne e de produtos lácteos - é responsável por um quinto das emissões de dióxido de carbono e gases equivalentes (CO2eq), segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). E em Portugal por dez por cento.

E multiplicam-se os estudos internacionais a alertar para a necessidade de se mudar radicalmente a dieta alimentar, com cortes substanciais no consumo de carne, sobretudo nos países mais ricos, onde, em média, se ultrapassam as 2 500 calorias de carne e gordura diária recomendadas.

É nesta linha que surge a proposta do Governo de reduzir para metade o número de bovinos até 2050, incluída no Roteiro para a Neutralidade Carbónica - apresentado recentemente na Cimeira do Clima da ONU na Polónia (COP24).

O documento (que estará em consulta pública até fevereiro e pode sofrer alterações) indica que a agricultura contribui para cerca de dez por cento das emissões de CO2eq nacionais e que mais de dois terços destas emissões têm origem na produção pecuária, com o gado bovino à cabeça.

Segundo vários estudos, por cada quilo de bife produzido em sistema semi-intensivo em Portugal, são emitidos até 27 kg de CO2eq, resultantes da digestão dos ruminantes e da aplicação de fertilizantes nas pastagens - é o equivalente a uma viagem de carro de 146 quilómetros.

É tudo uma questão de comunicação e só agora o tema está a entrar na agenda em Portugal. “A carne de vaca está para a agricultura como o carvão e o petróleo estão para a energia”, sublinha Júlia Seixas, especialista na área da energia e alterações climáticas, lembrando que, no setor da energia e dos transportes, já se está a trabalhar há mais tempo.

“Temos que reduzir o consumo de carne”, afirma, salientando que este debate começa agora em Portugal, mas já tem caminho feito noutros países. Um inquérito recente no Reino Unido indica que 35 por cento dos britânicos são vegan, vegetarianos ou reduziram drasticamente o consumo de carne por razões de saúde, de ética perante os animais e de sustentabilidade ambiental.

“A questão do clima e das emissões de carbono é absolutamente prioritária e os cidadãos têm que perceber que temos mesmo de impedir que as temperaturas subam mais de 1,5°C”, reforça Alfredo Cunhal Sendim, que se dedica à produção agroecológica no Alentejo. “A soberania alimentar portuguesa só é possível com uma alimentação baseada na dieta mediterrânica, que exige muito menos carne”, diz.

Dentro de 12 anos, 80 por cento da energia elétrica será produzida por fontes renováveis e a meta são 100 por cento em 2050. Para tal, é preciso duplicar a produção eólica e solar, apostando na descentralização da produção. As casas vão passar a ter painéis solares para autoconsumo e venda à rede.

Prevê-se uma alteração significativa dos sistemas de produção, com maior eletrificação de fontes renováveis, robotização e redução da intensidade energética. As centrais a carvão vão fechar até 2029 e as de gás natural entram em fase out em 2040. Será o setor com maiores emissões.

As casas e escritórios deverão ser energeticamente mais eficientes, e os consumos de energia serão reduzidos até 60 por cento. A eletricidade que nos chega a casa será 90 por cento renovável e os painéis solares contribuirão para 80 por cento das águas quentes. Espera-se três vezes mais conforto térmico e o uso partilhado de eletrodomésticos.

Dentro de seis a 12 anos, deixará de compensar comprar veículos a gasóleo ou a gasolina. Em 2030, os carros elétricos serão mais eficientes e baratos e representarão 1/3 da mobilidade.

Em 2040, os autónomos e/ou partilhados serão metade dos que circulam e em 2050 não haverá combustíveis fósseis na estrada.

O aumento da área florestal e a redução da área ardida para metade contribuirão para que o país tenha capacidade para absorver a quase totalidade das emissões de CO2 em 2050 (cerca de 12 megatoneladas). Haverá mais área de agricultura biológica e de precisão e aumenta a área de produção hortícola e de pomares.

A deposição de resíduos em aterro não poderá ser superior a dez por cento em 2035 e, 15 anos depois, a produção de lixo per capita cairá 25 por cento, associada a uma maior reutilização dos produtos no quadro da economia circular e a uma redução do desperdício alimentar, que deverá atingir 50 a 80 por cento.

Fonte: Expresso

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