Único mosquito pode transmitir dengue e Zika ao mesmo tempo
O mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue e do Zika, pode ser infetado simultaneamente pelos vírus causadores das duas patologias, sendo ainda capaz de transmitir os dois vírus ao mesmo tempo aos seres humanos, através de uma só picada. O estudo foi publicado no Journal of Infectious Diseases.
O corpo humano tem no sistema linfático um complexo, mas organizado, processo de proteção contra ameaças internas e externas ao organismo. Contudo, estes policias também podem ser corrompidos.
LER MAIS
A descoberta foi feita por cientistas da Fiocruz Minas e da Fundação de Medicina Tropical Heitor Vieira Dourado, ambas no Brasil.
Os primeiros testes, feitos em animais, mostraram que, quando o mosquito está infetado com os dois vírus, transmite preferencialmente o vírus Zika, mas também transmite os dois vírus num número significativo de casos.
"Isso significa que certamente temos mosquitos a circular no Brasil coinfetados por vírus dessas duas doenças, uma vez que o nosso país é área endémica para ambas as patologias", disse o pesquisador Paulo Pimenta.
Ratinhos submetidos à picada de mosquitos coinfectados tiveram uma taxa de contaminação pelo Zika de 100 por cento, percentagem que contrasta com a taxa de transmissão da dengue, que foi de apenas 20 por cento.
Porém, todos os 20 por cento infetados por dengue também foram infetados pelo Zika, indicando que o Aedes pode transmitir as duas doenças para um mesmo indivíduo.
"Por que o vírus Zika tem sido mais eficaz no processo de transmissão ainda é uma incógnita. Vimos, pelas nossas análises, que a intensidade da infeção nos mosquitos coinfectados foi maior para o Zika do que para o vírus da dengue. Assim, uma das hipóteses é de que haja uma maior disponibilidade do vírus Zika na saliva do vetor para ser injetado no hospedeiro", explicou Paulo Pimenta.
Outra possibilidade é de que o vírus Zika , por ter entrado mais recentemente no Brasil, seja mais agressivo ao entrar no organismo do mosquito, tendo a capacidade de se multiplicar mais rapidamente.
A coinfecção comprovada nesta pesquisa levanta a possibilidade real de que o fenómeno possa ocorrer também com outros vírus, como o chikungunya. Já foi demonstrada a coinfecção do vírus chikungunya com o da dengue e só falta agora encontrar os três no mesmo mosquito.
"A coinfecção por mais de um arbovírus terá implicações epidemiológicas importantes. Infeções mistas nos seres humanos poderão apresentar sintomas ainda mais complexos, tornando o diagnóstico clínico e até mesmo o tratamento desses pacientes um desafio ainda maior", ressalta ainda Paulo Pimenta.
